É desta extorsão de mim
que arrebato
o crepúsculo haurido.
As mãos suadas extraem da terra
os sorrisos propedêuticos
as limalhas atiradas ao acaso
contra os olhos ilhéus
dos operários.
O que dizer
destes dias circenses
em que muitos se disfarçam deles próprios
fingindo
que se orquestram na finitude sem regaço?
Ah!
o estipêndio joga-se em tabuleiros luxuosos
e são mãos sem rosto
que esfregam dedos extasiados
e esperam
com a ilusão dos desenganados
que seja sua a sorte vez
eles que nem sabem
do princípio geral da corrupção.
Os bichos remoem-se
indiferentes
numa gesta improvável
no cesto onde se guardam as frutas
no berço onde gastas se aprendem palavras
contra o fundo poço onde se escondem silêncios.
A combustão sobe a palco
altiva
pergunta quem quer um tumulto de graça
não sem desaprender a graça avinagrada
o sempre distante braço de ferro
que se indispõe
contra abastados fornecedores de esperanças.
Prossigo a pauta dos dias
eu que continuo a não saber ler música
e persigo vultos que seguem de rastos
como se lambessem a lama
e depois a bolçassem sobre os distraídos.
Prossigo
que as demandas se consultam na escuridão
intérpretes da alergia à simpatia gasta
antes preferindo cozinhar as sumptuosas farsas
sozinho no epicentro da periferia
roendo as unhas vestidas de cal
dizendo em apenas murmúrios
um dó-ré-mi apalavrado
no sofá dos aristocratas.
E se em sonhos me dissolvi
foi porque me esqueci de dormir
escondido na vela hirsuta de um velho veleiro
em mares de nomes que não sei
empunhando o sabre apodrecido
como convém
a um apátrida de guerras
magnificamente condoído na estatura meã
de tudo à volta.
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