1.2.25

O futuro tem o nome do medo

Corre a voz comum

estes 

são tempos da morte do teatro;

de cada vez que uma voz soluça

outras são caladas

em nome do um “bem maior”

sem haver quem informe 

sobre os limites do “bem maior”.

Costuram-se enredos

adulteram-se os termos 

em que se compõem os dias

jogam-se distopias contra utopias

num novelo de farsas

por onde desfila um exército de mitómanos

todos enferrujados

uns com a ferrugem do passado 

outros com a ferrugem que há-de ser vindoura. 

E o teatro desfalece

o palco consumido por térmitas diligentes

que torcem o braço ao tempo

e cospem nas circunstâncias. 

 

O futuro 

tem o nome do medo.

 

O nome

da obnóxia condição dos audazes 

os que se deixam pensar pela cabeça dos outros

e são atirados para a boca das feras

orgulhosos 

por ostentarem os galões de testas-de-ferro

quando, coitados, são os frágeis ossos 

os óbvios candidatos a serem carcaças 

quando no palco público 

forem reduzidos a escombros. 

 

As guerras

 

(o monopólio dos beócios

a tela onde bolçam os funestos

os que desaprenderam o que custa uma vida)

 

sempre foram este retrato

a síntese apurada da mais pura indignidade

do Homem.

Sem comentários: