Corre a voz comum
estes
são tempos da morte do teatro;
de cada vez que uma voz soluça
outras são caladas
em nome do um “bem maior”
sem haver quem informe
sobre os limites do “bem maior”.
Costuram-se enredos
adulteram-se os termos
em que se compõem os dias
jogam-se distopias contra utopias
num novelo de farsas
por onde desfila um exército de mitómanos
todos enferrujados
uns com a ferrugem do passado
outros com a ferrugem que há-de ser vindoura.
E o teatro desfalece
o palco consumido por térmitas diligentes
que torcem o braço ao tempo
e cospem nas circunstâncias.
O futuro
tem o nome do medo.
O nome
da obnóxia condição dos audazes
os que se deixam pensar pela cabeça dos outros
e são atirados para a boca das feras
orgulhosos
por ostentarem os galões de testas-de-ferro
quando, coitados, são os frágeis ossos
os óbvios candidatos a serem carcaças
quando no palco público
forem reduzidos a escombros.
As guerras
(o monopólio dos beócios
a tela onde bolçam os funestos
os que desaprenderam o que custa uma vida)
sempre foram este retrato
a síntese apurada da mais pura indignidade
do Homem.
Sem comentários:
Enviar um comentário