A ponte fina, estreita
moldada no musgo dos dias ergástulos
cimenta o que os pés têm por esteio.
Tremeluz com o peso do corpo,
arqueada sobre as laterais
em vertiginoso movimento pendular.
O corpo titubeia.
Não sabe se as fundações são confiáveis
não sabe a fundura do precipício
– não sabe se há rede
que ampare o voo contumaz.
À falta de asas
o corpo timorato faz coro com o medo.
Não teve tirocínio da intrepidez
nem se afamou pela loucura ufana.
Antes do ocaso
em perfeita penumbra dos sentidos
o corpo transido adormece
nos contrafortes da ponte rebelde.
À espera de uma ave de grande porte,
generosa,
que o leve no dorso.
(Só não estima para onde o levará
a ave de duvidosa generosidade.)