27.8.16

Astrolábio

O rumorejo que se desfaz
na embocadura do ouvido.
Deixando corpos transidos
um tremor de terra por dentro
na justa medida do sol que entardece.
Os ossos cansados
e ao mesmo tempo
penhores de um dia maior
estendidos pelo chão à procura do sal deposto.
Ciciam-se cantos leves à sombra das árvores
sobre os pés restabelecidos.
No mapa que se diz
das entranhas desenhado em elípticas metáforas
confundem-se os braços atravessados
num amplexo percutido.
As folhas rasteiras trazem um odor ocre
e as narinas intuem o festim.
O pano carmim
cobre os corpos envergonhados
estende-se na diagonal dos cantos da sala
o pano carmim
à espera que o palco se entronize
e os corpos dancem a coreografia
desenhada com dedos de ouro.
Os despojos emprestam
um canteiro de flores à sala.
Na maré alta dos tambores doados,
mesmo quando as estrelas destravam o olhar
e o suor que enfraqueceu os corpos
se transfigura no néctar esperado,
obra-prima das mãos mestras arquitetas
da ideal banda sonora.
O resto
deixa significado na fronteira da sala.

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