26.8.16

Prova dos nove

Preso nas estrofes da noite
já a lua fina envergonhada espreita
faço as contas num papel amarrotado.

Os números atravessados
parecem um estendal antes da brancura
antes de o sol neles se deitar
(tantas as cinzas que os cobrem).

As contas travam o caminho
entaramelam-se com a centelha iridescente
e dois dedos de conversa ao telefone.

Prouvera que cheia fosse a lua
para dela subtrair uma fatia gorda
e depois
entre as gotas vermelhas da chuva
e o acobreado das flores campestres
o chão se tornasse plano
para os números se deitarem em remoço.

Mas as estrofes da noite
desenganam as ilusões:
o chão irregular continua irregular.

O papel amarrotado
pano sofrível para os cálculos necessários
vai,
insucedâneo,
para o destino que foi sua origem.

Amarrotado
insalubre
sem as contas feitas,
apenas um amontoado de números
sem cabalística prova se não
um amontoado.

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