Na grande roda
onde se jogam os dados de água
uma arma vetusta e enferrujada
em cima da mesa.
Atónitos
demoram-se na arma inesperada,
eles que nunca meteram à mão
arma qualquer.
Não sabiam o que fazer.
Um deles propôs chamar a polícia
outro insurgiu-se
(reações epidérmicas mal ouvia a palavra)
e o outro descobriu uma bala sem paradeiro.
Emalou a mala no coldre
em preparativos de um jogo demencial
em que os outros aceitaram ser atores.
Sem saberem como atores seriam:
experiência no manuseamento de armas
não estava vertida no curriculum
e todos se ufanavam de pacíficos pergaminhos
e não havia conhecimento que transitassem
pela loucura.
A arma albergava cinco balas
e depressa tiraram a prova dos nove
às probabilidades
(que, em plena véspera da roleta russa,
rimavam com fatalidades).
À vez
com mão tremeluzente e num arfar aflitivo
um seu dedo premiu o gatilho.
Não eram armeiros
nem tinham ar de serem belicosos
nem deles se sabia apascentarem riscos.
O que não se sabia
(ou não era de público conhecimento)
era o vício incorrigível pelo jogo.
A bala sem paradeiro
tirou as vezes aos dados de água.
Desta vez
a aposta não fora em numerário.
Depois de três vezes premido o gatilho
a alvorada soou para todos
no prolongamento da agonia
que nem a roleta russa acabou.
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