11.8.16

Estratosfera

Um chapéu cheio de folhas frescas
em colisão frontal com um vestido de fada
na circunscrição amuralhada
das sereias noturnas.
Nas abas do chapéu
a chuva caída em pingos grossos
desautoriza a letargia
sem contar
que se terçam bailados avulsos
onde os corpos se meneiam no calor hirsuto.
Arregaçam-se as virtudes:
sempre exteriores territórios
dando em hipoteca o sal desexistente.
Importam os estábulos circenses
a frontaria dos patriarcas desentronizados
ou a seara abundante
onde investem os corpos livres.
Numa constância do tempo
substância volátil que campeia
em mares de ontem
sem saber que os tutores dos devires
se espreguiçam na esteira mal atada.
E depois do amesendar esperado
nas imediações de um lago celeste
imprimem-se tatuagens em nenúfares.
Os alinhavos descosidos
emprestam ordem ao caos.
E eu
penhor do meu sono tingido a branco
retiro da água
as pérolas que esbracejam.
Eu
modesto arquiteto das palavras,
à falta de um campo só meu
à falta de cultos deificados
à falta de folhas douradas
para verter as palavras sem cais,
faço caiar as paredes com a saliva fervente
e deixo para depois o lóbulo atiçado
que é o entardecer que está por vir.
Retiro-me em pensamentos
como se pedisse de empréstimo uma régua-matriz
e pesasse todos os elementos
ao contacto com as mãos.
Deixo o corpo em magistratura final.
Os copos entretanto vazios
dirão
em livro de termos
se a função derrotou a feroz foz do rio
que faltava vencer.

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