22.8.16

Paraísos

Fazemos os paraísos
com o mel dourado vertido das mãos.
Metemos faca afiada
nos perenes estalões da inquietação
caducando a eternidade.
Vamos aos rios fundos
os rios caudalosos de águas geladas
e trazemos as pedras fortes
que servem de casa-forte.
Não temos medo de nada
túrgidos na emancipação das palavras
enquanto dedilhamos o mapa das luzes.
Voltamos aos paraísos fabricados
por nossos dedos:
os azuis desmaiados
folhas de árvores caducas
um mar inerte e sem beleza
o céu embotado atrás de um sol ocultado
roupas vestidas a preto e branco
rapazes estroinas que adiam a lucidez
a engrenagem gasta pela ferrugem do tempo
gente sem serventia.
Não interessam
os matizes baços do quadro aos nossos olhos
se decretarmos
com força de imperativa lei
que paraíso é o que quisermos que seja.
Tiramos as mãos do bornal seu refúgio
e desenhamos na humidade da noite
os traços indeléveis dos paraísos.
Fizemos os paraísos
como nossa caução.

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