14.8.16

Sem cortinas

Alcanço o equinócio
enquanto a clepsidra se esvazia
ajudada pelos cantos insondáveis
de vozes sitiadas.
Julgo os temores matéria imprópria:
se são à noite
e à noite voga em mim a indiferença
não fazem diferença os pesares
dos viúvos de alma retorcida
que lavam as lágrimas na desdita dos outros.
As contrafações de antanho
foram levadas pelo caudal do rio.
Agora
o peito abraçado às pedras preciosas
rituais erráticos
varandas equidistantes da alma polida
e os relógios todos metidos no contrapeso
que é o presente que pressente o amanhã.
Desviado das ruas ardilosas
das pessoas que coalham o sol propedêutico
de um leve bater de asas artificioso,
componho um tratamento de ideias
e meto-o em garrafa gasta.
As correntes do mar cuidarão
de lhe encontrar cais a preceito
num equinócio restituído às campânulas
que esbracejam
o troar da íntegra imagem interior.

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