18.8.16

Obra completa

A obra completa.
Os lábios grossos, quentes
sedentos de beijos que crepitam.
A perfeita textura do horizonte.
O doce entardecer suavizado
por um cálice de vinho branco.
A coleção de divindades que não existem.
O entorpecimento que não desassisa.
Os olhos todos, em coreografia cruzada.
O paredão do cais
preparado para rebater o mar furioso.
O precipício que se compõe
e a arte de o deixar em solidão.
As árvores metidas no meio do nada.
O número que desabita o deserto.
As palavras compungidas
para os momentos desacertados.
Antídotos sinceros para os punhais assestados.
Um grito da alma no perfume da alvorada.
Esteios agarrados por delituosos capatazes
e as mãos trémulas que deles
(esteios assim compostos)
fogem.
Um abraço ao corpo todo
os braços tomando o corpo na plenitude.
Para sentir a inteireza
e deixar escrito em grossas palavras
pintadas pelas paredes da cidade
que não se capitula.
E que essa é a obra completa.

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