Um fortuito acertar
a roda viva do acaso
e as lentes embaciadas
que exigem aura
um visível beijo nos azulejos arcaicos
e um verso puído,
singelo.
A maré não se encontra na mão.
Os líquenes extinguiram-se
deixando o lago só com água.
Se ao menos soubesse da boca rasa
dos lábios que mordem o isco
e serpenteiam nos corredores do desejo.
Se
ao menos
habitasse os sonhos meus
e não fosse
forasteiro deles;
se meus fossem os azimutes da vontade
o manual de intenções
o campo arroteado onde fermentam
as horas que são minhas:
seria anfitrião de mim mesmo
vedando a casa ao feiticeiro que substitui
a ideia que tenho de mim.
Teria de me ver do exterior de mim.
Teria
de interrogar todas as frases
as palavras,
uma a uma,
para excluir as que são madraças
e as infetadas pela mentira contumaz.
Às vezes
não sei sentir o palco que vem a meus pés
não sei
dos inverosímeis chamamentos
das luras que se acham entre os arbustos
o que significam
no mosaico indigente onde sobram mendigos.
Não ouso
estatura maior do que a que tenho;
não sou capaz de saber
que estatura é essa
não confio nos espelhos
não confio
na lucidez que transporto.
Combino com o amanhã
o exílio das consumições.
Assim como assim
pior podia ser o estatuto da inquietação.
Pior podia ser
o véu a cair sobre o olhar
na dobra do calendário apressado
como se nadasse no Mar Morto,
como se mortas fossem decretadas
as angústias militantes.