10.2.20

O bailado dos meãos

Deu-se o novelo ao socalco das ideias
e da ferrugem de antanho não havia vestígio. 
A contrapartida da indulgência
(avisavam os clérigos disfarçados)
era o penhor onde se esvaziam as almas
de nada servindo
a escultura onde se compaginava a comiseração
nem o palco 
onde tinha tradição o arrependimento. 

Num fulgurante vicejar da voz
um sobressalto compôs-se na frontaria do dia
e os duendes
já não martirizados pelo desdém
puderam cantar 
interminavelmente. 

Os tanques já não tinham lavadeiras
mas o parque ainda tinha o seu batismo. 
Acontece 
com a usura do idioma transfigurado
cunhar epítetos sem correspondência
e a maldita tradição
(o argumentário da inércia,
ou o poço onde se disfarça o medo da diferença)
persevera,
indiferente à dissonância.

Este podia ser 
um breviário sobre a História dos mundos:
a servidão escolástica 
que subtrai a vontade dos Homens
o máximo penhor todavia não reconhecido
a mais sublime das anestesias
o sufrágio não validado 
que reduz o Homem
à caricatura de si mesmo.

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