Se as lamentações
fossem feridas
lambidas pela língua de um cão
não chegariam a cicatrizes
(pois
que da língua do cão
se diz ser milagrenta).
Se as cicatrizes,
em sua agónica e irremediável presença,
fossem mapas lúdicos da angústia
seriam necessárias
muitas brigadas de geógrafos
para deitar cal
e disfarçar as cicatrizes
(pois
dos fingimentos se diz serem
o teatro natural da existência).
Se a pele e a carne
fossem resistentes à dor
não haveria lugar no vocabulário
para
lamentação e cicatriz
e os mapas seriam todos
onomatopeias das línguas caninas
(pois
de sermos à prova da pureza
sobra a militante fragilidade).
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