À boca do cão
molhada
o dorso sem medo
o estuário destronado.
Treze versos sem rima
o mar inteiro
a escotilha sem parapeito
a erupção em vez do sono.
Os dedos amordaçados
a carestia dos marinheiros
em novelos sem contagem
despenhando os cabelos desarrumados.
À volta do mundo
os capitães enrugados
capitalizam a sabedoria
e o navio segue seguro.
Amanhã não será trono
nem norte haverá de falar
tingido pelo nevoeiro opaco
a maresia como única bússola.
Amanhã serei o húmus de mim
sem esperar miragens
sem esperar relâmpagos rasgados
apenas um módico de mim à mão levado.
A previsão escondida
o baço oráculo
irrisório
e a bênção gargalhada no vazio.
Tomador das angústias sem paradeiro
passo-as pelo coador meticuloso
e sei que sobra
o vazio que é integridade.
Não alcançam os dedos os aviões foragidos
na vetusta lembrança do futuro
contra as opressões do tempo ausente
contra os apoderados da viagem sem rumo.
Escondo-me dos dias tementes
como o cão foge dos mastins em forma de homem
e sei de fonte segura
o esconderijo não tem mapa.
Deixo à água a boca apalavrada
deixo-a embebida pelo meu corpo
sem contar que haja proveito
no contrabando vencível dos fracos.
Aos escombros devolvo as vítimas
e as mãos suadas são seu escaninho
as mãos oxalá lavadas das ruínas
anelando as preces inacabadas.
Sou legado em forma imaterial
as cinzas minhas sem inventário
nem lugar determinado
elas que tomam o lugar do acaso.
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