Dizia:
o lingote é o meu estuário
enquanto
arrefecia o gelo que subia à boca.
Eram suas as braçadas
o sulco que rasgava o rio
a voz sem contorno na embocadura da manhã.
Pelas contas que fazia
as flores estavam para nascer
e sabia que o mosaico de cores
se emprestava ao luar eflúvio.
Depois da manhã
vinte respirações depois
tinha nas mãos os despojos
um remo quebrado emaciado no musgo
as notícias desalinhadas no estirador
a carne afogada no estertor
um leve aroma a caos.
Tinha medo.
Medo da decadência
e encomendava o barco
contra as alvíssaras do tempo.
Metodicamente recusava dizer:
depois de amanhã.
Ficava-se por sucessivos
depois da manhã.
Era o que fazia a diferença.
E a centelha
ainda acesa.
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