14.2.20

Catorze de fevereiro (mas podia ser noutro dia qualquer)

Ólafur Arnalds, “Undan Hulu”, in https://www.youtube.com/watch?v=PF60wtGB5ro

Penso
na quimera
que me deste
quando do teu amor
fui zelador.

Penso
na gesta
que sou
quando o meu amor
a ti foi destinado.

Penso
nos corpos em combustão
nas cidades que foram nossas
e naquelas que hão de vir a ser
nas ruas em que andámos de mão dada
nas palavras que dissemos em uníssono
nos olhares de que fomos capitães
nos contratempos que foram cimento
no cofre que transborda do amor amealhado.

E penso
nos pianos que serão nossos ouvidos
nas montanhas que serão derruídas
nas manhãs de que seremos aval
nas intempéries de que seremos domadores
na imaterialidade do amor rútilo 
nos arco-íris que depõem a nosso favor
nas ruas escondidas onde deixaremos vestígio
nos corpos deixados ao desejo
nos mares vindouros onde escritos serão
os nossos versos tumulares.

Guardo
o teu eu
imorredoira memória de mim
o sagrado viés
que se agiganta num amor.

Guardo
o teu rosto sereno
a prece sem reparo
a página desarmadilhada num gesto simples
o tribunal sem regras
onde somos juízes e réus
sob a protetora lava do amor.

Guardo
no peito dado a ti
em marés sem marco
o amor que sabemos ser
e num amplexo dos tempos
retenho
as imagens que somos
a moldura das imagens que fomos
e o pressentimento das imagens que seremos.
Em todas as ruas 
que hão levar os nossos nomes.

Sem comentários: