Your right to say no.
You’re right to say no.
Drift the unnameable
on rosy shades voicing the void.
Then
while waiting for the aftermath
spell it out
conspicuously
“no
hereby I say no”.
By any means
and so forth.
Refúgio nas palavras. A melodia perdida. Libertação. Paulo Vila Maior
O molde puído
esconde a verdade da pele.
Não se atira fogo ao lago
nem a trovoada se encanta
por sereias fantasmas;
no fogaréu alinhado
as vozes entontecem-se no mito banal.
Não são as janelas que deixaram de abrir:
é o desmodo de viver
o planalto onde se semeia a aridez
a grotesca exibição dos excendentários
a fábrica de transações a descoberto
onde os alpinistas sem escrúpulos
sobem na medida da descida.
A verdade da pele
arranjada sob o disfarce das cicatrizes
estilhaça o molde puído.
[Crónicas do vírus, DLXXII]
A excitação
antes de tempo
– ou a cobiça do futuro
se cumprir
antes de o ser.
Cabeça em água.
Cabeça
na água.
Cabeça.
sem água.
Água.
Sem cabeça.
Ou:
água
na cabeça.
Água
(que) encabeça.
Me versus myself
a mouthless sword
dying to dare
at the doorsteps of the void.
Me against myself
on the verge of defeat
a woe made of a stiff leash
thriving
(who dares to know?)
the breath of success.
Me or myself
or else
the flipside of mourning
against shaded tears
jawing the tree into de knees
of the dawn.
[Crónicas do vírus, DLXX]
Recolhemos
os fragmentos perdidos
nas ruínas da peste
sem vontade de sermos
o mesmo filão.
A aguarela sentou-se no lago
e deixou que o espelho de água
falasse por si.
E antes que a noite tivesse pressa
não deixou que a plateia
se exilasse no olvido.
Deitou a mão ao entardecer
e emoldurou a aguarela
em lugar imperial.
Não saiu do lugar,
não fosse o lugar sair do sítio.
Na manhã que se seguiu
a aguarela era a continuação
do lago
e ele,
o pintor encomendado,
esquecimento puro de si mesmo.
Foi ao fundo da alameda
que branqueou a confidência:
“Eu não tenho chefe,
tenho inteligência.”
Logo depois
hasteou a bandeira da vaidade
(confundido pelo sol
que feria o olhar).
[Crónicas do vírus, DLXVIII]
Já não somos
de plasticina.
(E alguma vez
deixámos de ser
de plasticina?)
O sonho
no seu próprio anzol
sobreposto
à matéria venal:
o sangue armadilhado,
à espera de tempo.
Estragão
(ou outra erva qualquer,
não se sabe)
ceava
nos espinhos da coroa do escolhido
devolvendo um aroma
que o suor houvera curvado.
Os discípulos ciciavam
à espera do anoitecer:
o escolhido parecia enfraquecer.
Sem demora
encomendaram umas tisanas
que os espinhos se desprendiam da coroa
e o escolhido já só parecia
uma miragem.
[Crónicas do vírus, DLXVI]
Liberdade doseada,
às colheradas,
com o advento de maio
(que é depois de abril).
Não digo
no espasmo da fala
que seja acintoso,
o Napoleão.
Podia ser
que o pusesse em diálogo
com Séneca
(ou em caso de indisponibilidade,
com S. Tomás de Aquino).
Napoleão teria de esperar pela rifa.
Sagaz,
tentou subornar o espírito do concurso.
Foi o seu maior erro:
Kierkegaard podia ensinar,
sem a catedrática pose
que não tolera o contraditório,
que os espíritos são
à prova de subornos.
Napoleão resignou-se.
Antes Napoleão por um dia
do que os discípulos em barda
pressurosamente ensinando o desdisse.
Assim como assim,
não há auroras boreais
por estas paragens.
Atiro o alfabeto
contra a boca sedenta
e reverto a toada a favor
dos órfãos de sentido.
As letras
desenho-as com o cinzel furtado.
Meto-as numa aguarela primaveril
e desminto os ogres que voluteiam
entre os hemisférios perdidos.
À força de um labirinto
depois do ermo lugar
junto as mãos todas numa clepsidra:
oxalá sejam artífices
do mais alto verbo
e depois de um depois
se cumpram na fértil andança dos mares.
Dizem:
que não venham venenos sem antídoto
que não se soergam no ocaso
os mastins celebrados por atrocidades
que falem baixo
os tiranetes sem guarida;
que não se desestime a laje secular
o adro que não perde os velhos em repouso
a crisálida que se deita nas flores sedentas.
Amparo o alfabeto,
antes que fique órfão.
Espreito
pelos interstícios
onde ecoa a penumbra.
Espreito
a madrugada em sentido
o vocabulário tenente
que é o aforro dos tardios.
Espreito
este dorso incansável
que promete o amanhecer sem demora
o visível contrabando da fala.
Espreito
a madrugada sem sentido.