27.4.21

Banho-maria

Atiro o alfabeto

contra a boca sedenta

e reverto a toada a favor

dos órfãos de sentido.

As letras

desenho-as com o cinzel furtado.

Meto-as numa aguarela primaveril

e desminto os ogres que voluteiam

entre os hemisférios perdidos.

À força de um labirinto

depois do ermo lugar

junto as mãos todas numa clepsidra:

oxalá sejam artífices

do mais alto verbo

e depois de um depois

se cumpram na fértil andança dos mares.

Dizem:

que não venham venenos sem antídoto

que não se soergam no ocaso

os mastins celebrados por atrocidades

que falem baixo

os tiranetes sem guarida;

que não se desestime a laje secular

o adro que não perde os velhos em repouso

a crisálida que se deita nas flores sedentas.

Amparo o alfabeto,

antes que fique órfão.

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