14.4.21

Bulldog

Dou à pele

um mar de corsário

um cortejo sem pajens

no rumor dos dias pensados.

Habito entre as marés

antes que de Neptuno seja refém

e nos calabouços das ideias

arrumo as minhas,

antes que sejam desarrumação infiel. 

É nestes mares adestrados por meus olhos

que vinham os erros colossais,

matéria antecipada

nos provérbios armadilhados. 

Sou eu 

– não sei – 

em povoados sem idioma

sulcando a geografia notária dos postais

enquanto as cavidades ancestrais amarelecem,

puídas pela estouvada correria do tempo. 

Sou eu

sentinela dos marinheiros órfãos

apólice contra os naufrágios,

com a mão domando o mar encrespado

antes que revire os olhos

e se torne furibundo. 

No meu vocabulário

não encontro espaço para a melancolia. 

Não arranjo as avarias,

que as obras diletantes dos sacerdotes da vida

previnem a perfeição. 

Sou eu 

– o puramente imperfeito

mastro em que se hasteia o pólen 

do que há de ser

alma à procura de o ser

ou vulto desossado de uma alma frágil. 

Deixo de herança

o esquecimento de mim,

desexemplo por excelência

o fugitivo que verte tinta nas nuvens, 

o mentor do nada

que em improfícuos mergulhos

traduz montanhas perfumadas a azul. 

Eu,

o corsário inábil

gato furtivo sem gente por perto

modesto embaixador do etéreo

entre talhadas de loucura servidas em mão

e páginas esquecidas no torniquete da memória. 

Eu,

essoutro à procura de paradeiro

na vinificação dos espíritos desatrelados. 

À espera de vez,

à espera de monções do tempo

servidas sem arnês,

na possibilidade do desdito

sem encorpar se não nas estrofes

de um vate sem nome próprio.

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