Dou à pele
um mar de corsário
um cortejo sem pajens
no rumor dos dias pensados.
Habito entre as marés
antes que de Neptuno seja refém
e nos calabouços das ideias
arrumo as minhas,
antes que sejam desarrumação infiel.
É nestes mares adestrados por meus olhos
que vinham os erros colossais,
matéria antecipada
nos provérbios armadilhados.
Sou eu
– não sei –
em povoados sem idioma
sulcando a geografia notária dos postais
enquanto as cavidades ancestrais amarelecem,
puídas pela estouvada correria do tempo.
Sou eu
sentinela dos marinheiros órfãos
apólice contra os naufrágios,
com a mão domando o mar encrespado
antes que revire os olhos
e se torne furibundo.
No meu vocabulário
não encontro espaço para a melancolia.
Não arranjo as avarias,
que as obras diletantes dos sacerdotes da vida
previnem a perfeição.
Sou eu
– o puramente imperfeito
mastro em que se hasteia o pólen
do que há de ser
alma à procura de o ser
ou vulto desossado de uma alma frágil.
Deixo de herança
o esquecimento de mim,
desexemplo por excelência
o fugitivo que verte tinta nas nuvens,
o mentor do nada
que em improfícuos mergulhos
traduz montanhas perfumadas a azul.
Eu,
o corsário inábil
gato furtivo sem gente por perto
modesto embaixador do etéreo
entre talhadas de loucura servidas em mão
e páginas esquecidas no torniquete da memória.
Eu,
essoutro à procura de paradeiro
na vinificação dos espíritos desatrelados.
À espera de vez,
à espera de monções do tempo
servidas sem arnês,
na possibilidade do desdito
sem encorpar se não nas estrofes
de um vate sem nome próprio.
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