20.4.21

Espelho sem gasto

Levanta-se o termo em volta da penumbra:

a manhã está pronta. 

Desembaraça-se a luz,

ao início presa às amarras da noite,

autorizando os matinais percursores

na inauguração do dia. 

Não há nada a dizer da rotina. 

As pedras do cais 

são sempre frias e húmidas,

mesmo quando o Verão está no auge. 

O que será 

dos que rumam contra a maré

e, noctívagos, 

viram o tempo do avesso?

Dirão de sua rotina

ser uma rotina

no avesso da rotina

dos que são seus antípodas 

– uma fortuna ao acaso,

como qualquer outra. 

Não se fale de rendição

nem de perspicuidade. 

Os lados dos dados não mudam

com um aceno da vontade. 

Em vez da angústia,

a aceitação da rotina:

é uma prova de vida,

um ermo.

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