16.4.21

Assimetria

Ouve-se o ciciar de vultos perenes. 

Não se traduz em palavras sufragadas,

o ciciar. 

Na lonjura da planície

os lobos depositam o uivar

enquanto fogem das mandíbulas

dos mastins mais do que eles. 

Que não haja fingimento deste xadrez 

que sobe constantemente à cena:

 

é um jogo de algozes e presas

e às vezes troca-se de lugar. 

 

Serão as vozes enformadas 

inábeis consumidoras das imagens sem freio

à espera de portagens extintas?

Os embaraços fustigam a ideia do presente. 

Açambarcam a fala

deixada numa fratura exposta

e as sílabas ensonadas 

são a metamorfose de perguntas. 

Ah!

Não sei que paradeiro hei de dar

dos loucos 

que desafiam as gastas arestas do mundo. 

Invejo-os,

os loucos sem saberem da simetria das regras

nem dos penhores que organizam a obediência. 

 

Os risos ecoam no espaço à volta. 

Mas não há rostos

não há matéria sensível

a cortar centímetros entre os lugares. 

Há um labirinto que foge da mediana

contra o ultraje que desvia os olhos

e deixa-os hipotecados na hibernação. 

Mas os vultos perenes 

não deixam de se fazer notar;

 

inclinam-se vagarosamente,

matéria sem ossos, 

para trás e para a frente,

como se fossem maestros implícitos 

da colheita que se repete

todos os dias. 

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