As horas são cortinas que ascendem
na matricial pose do corpo. Pegam-se
nos mastros que dominam o estuário
e os olhos convocados exoneram a culpa
dos órfãos do medo. Se ao menos
a contagem obedecesse aos caprichos
de cada alma não seríamos subúrbios
da vontade. Todas as verdades
se extinguem na sua formulação.
Sobram as palavras não sopesadas,
as palavras desenfreadas que saltam
por cima das fronteiras, ficando à espera
dos internos sobressaltos arrancados
ao magma combustível. As horas deviam
ser silêncios estendidos na geografia
onde os corpos habitam. Deviam olhar
para dentro da carne, isentando o seu
labirinto dos modos que se hasteiam
na mais pura fala totalitária. Ficam
nas mãos os desenhos furtivos que isolam
as horas dos minutos que as alimentam.
Quem sabe se não é esse o segredo.