Um espelho que se despenha
vertical
no eixo do vazio
cozinhando no fogo embainhado.
No vale tardio
os camponeses esperam
pela pendência da velhice
amestrados em segunda grau
a contar os clérigos exilados.
Arrestam as suas artes ao pelourinho
preferem uma oferenda às divindades
antes que uma errante vingança
se abata.
E até os que se deitam ao paganismo
não insultam as divindades que não vêm:
ó embaixadores dos tempos
trespassados por mil soldadinhos de fancaria
aprovados nos ulteriores salões de boémia
tragam um excerto de futuro
para os embaixadores do medo
resgatarem a loja onde se desbarata o sossego.
As avenidas continuam sobrepovoadas
as almas à ilharga exibem a densidade:
as cidades arrumam-se depois
largas temporadas após se tremem esgotado
nos palacetes que guardam
as ideias barrocamente estultas.
Os olhos cruzados invadem-se
com o aparato da deselegância
sentem um burburinho
a colonizar o sono postergado:
os dedos
acobertam as páginas desimaginadas
que fogem sem trela por perto
ensaiando a tiracolo nas nobres decências
os homens encanecidos
que não se escondem nem fingem
um elixir
no enclave onde se apresentam as fardas.
Dão a noite por perdida,
agora que a insónia os enlaçou na alvorada
a destempo.
Se soubessem traduzir os incómodos
o dia por diante seria um longo eclipse
as persianas corridas fechando a luz do palco
e as pessoas
cabisbaixas
aprendendo com o porvir.