19.10.23

Saltar à corda

Um espelho que se despenha

vertical 

no eixo do vazio

cozinhando no fogo embainhado.

No vale tardio 

os camponeses esperam 

pela pendência da velhice

amestrados em segunda grau

a contar os clérigos exilados.

 

Arrestam as suas artes ao pelourinho

preferem uma oferenda às divindades

antes que uma errante vingança

se abata.

E até os que se deitam ao paganismo

não insultam as divindades que não vêm:

ó embaixadores dos tempos

trespassados por mil soldadinhos de fancaria

aprovados nos ulteriores salões de boémia

tragam um excerto de futuro

para os embaixadores do medo

resgatarem a loja onde se desbarata o sossego.

 

As avenidas continuam sobrepovoadas

as almas à ilharga exibem a densidade:

as cidades arrumam-se depois

largas temporadas após se tremem esgotado

nos palacetes que guardam

as ideias barrocamente estultas.

 

Os olhos cruzados invadem-se

com o aparato da deselegância

sentem um burburinho 

a colonizar o sono postergado:

os dedos 

acobertam as páginas desimaginadas

que fogem sem trela por perto

ensaiando a tiracolo nas nobres decências

os homens encanecidos 

que não se escondem nem fingem 

um elixir

no enclave onde se apresentam as fardas.

 

Dão a noite por perdida,

agora que a insónia os enlaçou na alvorada

a destempo.

 

Se soubessem traduzir os incómodos

o dia por diante seria um longo eclipse

as persianas corridas fechando a luz do palco

e as pessoas

cabisbaixas

aprendendo com o porvir.

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