A luz violeta atravessa a pele enevoada
abraça o cansaço vertido na penumbra
e mesmo os boémios fartos esmorecem
ficam à mercê do arrebatamento dos sonhos
despojados dos seus espelhos feéricos
derrotados pela rima convulsiva dos opulentos.
Se a tarde não fosse esquecida
voltavam todos à esplanada
onde foram escansões das almas avulsas
a sua maior impertinência
desde o pequeno furto não documentado
já que o rescaldo da adolescência foi pueril
e inocentemente pacato.
Agora
as bandeiras brandidas desassossegam o palco
entram punhais mastigados pelas úlceras
e todas as palavras se arrependem
as noites não dormidas sobem à boca de cena
como se um luar imprevidente convocasse
a redenção imperativa.
Eles não acreditam na redenção.
Se acreditassem
estavam em delirante negação do tempo
e não têm coragem de costurar tamanha bainha.
Os corpos partem no etéreo enamoramento
mal suam contra as veias ateadas
as bocas falsificam os silêncios achados
verberam as falas mansas que soam a ardil
e depois
antes que uma dobra do tempo seja selada
na lombada da memória
esconjuram os meãos que tomam conta do fado
sublevam-se contra as vozes ordeiras
compondo o hino matricial do caos
porque se as pessoas são um ideal
se elas se aposentam na sublime destemperança
de quem desalinha do medo institucionalizado
não respondem por hinos ou bandeiras
não respondem à ditadura de velas aluídas.
Desobedecem galhardamente
porque sabem e precisam
de ser gente de si mesma pária
mas legítima diante de um espelho alheio
sem importar que esteja desbotado.
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