18.10.23

Levitação

O alvoroço ruge no dédalo da acalmia

desautoriza o medo que nos dizem contínuo

como se um estado permanente de intimidação

estivesse de atalaia

vigilantemente angariando a obediência. 

Lá fora

gatos vadios entretêm-se na coreografia do cio

desobedecem ao humano código de conduta;

obedecem na mesma,

o seu particular código 

de conduta. 

Peritos que mostram as credenciais à lapela

explicam que só todos formatados por regras

não seríamos uma anomia cacofónica

se persistíssemos na ausência de códigos,

empenhados no magma animalesco

reféns da ideia 

de que limítrofes são todos os demais

sem ambição de sermos alguém 

por fora das nossas fronteiras

nós, 

em cada individualidade concêntrica,

a granada desencavilhada no limiar 

do rebentamento

aos nossos pés. 

Muitas e elaboradas são as confabulações

avivadas pelo lastro do tempo

e a fonte da experiência,

provas incontestáveis de sermos 

um peão dentro da colmeia. 

Anestesiados

pelo saber enciclopédico

e pela humilde sujeição aos maestros 

que por isso nos regem

e esmagados 

pelos obscenos desexemplos contrafactuais,

os párias provam com a sua insubmissão

que são miasmas para o coletivo sobreviver:

aceitamos 

os códigos 

e as leis 

e os regulamentos

e todas as proibições 

e mandamentos inescapáveis. 

Confirmando-se

o Homem é lobo de si mesmo

autodidata da autofagia

viciado numa menoridade perpétua

que o torna meão. 

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