24.10.23

Sem órbita

Gravado a fogo

o nome ouro esperava santuário

enquanto as juras submergiam 

no vulcão atónito

vertiam uma babugem 

como se fosse

parte de uma fala interminável. 

Os dados fugiam do tabuleiro

e as pessoas não iam a jogo

grevistas sem saberem no despojado chão. 

O nome era o ouro arrematado pela boca

e a língua nómada 

arrancava as palavras escondidas

gravando a medo a pose desautorizada

o meigo afago que desenhava o rosto

desmentindo os pusilânimes algozes

os que erravam nas cicatrizes das pessoas

agravando a insónia. 

De cada vez que o sol se levantava

os espelhos armavam-se 

contra a tirania dos farsantes

os déspotas também arrancados de dentes

mordendo por dentro das horas consecutivas.

Dizia-se dos adiares 

que eram escotilhas

o lugar sereno 

onde as pessoas guardavam os alfaiates

fossem de moda feita ou por inaugurar. 

Lívidos

os outrora reféns 

narravam a bondade dos torcionários

como os demoviam das monstruosidades

antes que fossem demitidos das graças 

e devolvidos fossem aos arcanos mosteiros

onde lápides convocavam o futuro. 

Sem ficarem órfãos da chuva celebrada

os miríficos tecedores de palavras

escondiam-se dos outros 

juntando-se 

aos poemas intemporais. 

De nada sabiam

os meãos paladinos 

que viravam as palavras do avesso:

sua era uma coutada sem morada

e da pele assumida ficavam de pé 

as sílabas profanadas

as sílabas que faltavam

para um sentido inteiro 

ser dado aos deuses.

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