Tinha o general
inconfessáveis sonhos:
era ator de filmes pornográficos
em pelejas outras
(que não as castrenses)
em que a regra era não haver regra.
O general acordava sobressaltado.
O corpo lavado em suor
transido
o membro entumecido
teimosamente renitente em desarvorar bandeira.
O general era incapaz de saber
se de sonhos ou pesadelos
cuidava de ser intérprete.
Passava o dia inteiro
distraído das funções no quartel
perenemente assaltado pelo onírico carnal.
Certo dia
o general ensaiou reter em escrito
o teor do sonhado na pretérita noite.
Ficou tomado pela perplexidade:
ele não era de espreitar pornografia
(ou não o queria admitir
temente de ser apostrofado
pelos pares e mancebos).
Receou ser patologia incurável.
Não tinha a quem confidenciar o deslize,
amedrontando pela hipótese de escárnio
até pelo degredo do exército
por entorse aos bons costumes
(de que o exército,
em comandita com a santa igreja,
se dizia zelador).
Resolveu a fuga para a frente:
em dúplice existência
passou a figurar na ficha técnica
de pornográficos filmes,
todavia sob a proteção de pseudónimo
e de continua máscara a ocultar o rosto
(desconfiando que os seus pares
eram ávidos consumidores do género).
No seu alter ego hedonista
o cartão de visita era
General Elio Quattrofoglio.