Através das saias do tempo
antecipo a luz que trespassa o dia
um rosto coibido no estirador do luar
a neve adiada na Primavera provecta.
As folhas esbracejam ao vento
fogem das palavras entardecidas
como se de um microfone se ungissem
e na pele de um lobo emudecessem
amotinadas em musgos sem preparativos.
A voz muda a conspiração
deixa-a, hibernada, no púlpito dos olhos torpes
levantando um auto contra os histriões
a maçada que se amanhã contra o dia suplício
e no fogo abraçado que caldeia tempestades.
Sou este lugar ávido
um limão separado das ramagens
olhando de atalaia para as rodas fluviais
precocemente endoidecendo os dedos gastos
como se pela praça centrípeta
passasse um circo mudo
um relógio perenemente atrasado
três anciãos derrotados pelo tempo madraço
volteando as cordas lassas que vêm do miradouro:
este
é o altar
sob o lume das candeias
os mares que cabem no colo
uma miragem tirada do caudal amarelecido
o cio confiante.
Dizem
o medo foi extinto
e eu era capaz de hipotecar
um pedaço de alma
era homem
para deitar a coreografia à sorte
só para ver
que número saía em sorte.