29.4.24

Aterragem forçada

Se soubesse o idioma das marés

dispensava as pontes

os frugais heterónimos do Verão

um lugar no sol da meia-noite

como se as sinfonias alisassem as cicatrizes

e em vez de portas 

as arrecadações no postigo espreitassem

o céu preparado para o ocaso. 

 

O que nos vale

é que não há arco-íris à noite. 

 

A chuva não se mistura 

com os barcos estacionados

ensinada a cair onde a terra precisa. 

 

Os velhos

já não acordam para as conspirações;

não acordam às conspirações

preferem usar a baioneta servida a palavras

do que esculpir sonhos que precisam de tempo. 

 

Quando se amontoam os barões ajaezados

confundidos com o testamento dos tempos

as palavras engrossam no fino caudal da tarde

fingem que dão a volta ao mundo em meia hora

enganando os guardas-noturnos ensinados

no auditório encenado onde só os profetas

são esquecidos. 

 

Não é deste esgrima que se alimentam

ou a greve de fome atraiçoa os sentidos

por mais que se esforcem por ser vulcões

outra vez vulcões

porventura derrotados pelo raiar de maio.

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