As rodas-vivas
só para contrariar a morte
espelhos que avivam as cores
delas fazem disfarces propositados
um galanteio à estética em forma de verso
ou apenas
um logro
para manter a anestesia geral
em forma de letargia.
O que seria de uma roda-viva
se fosse atirada
para o poço da morte?
Mecenas autorizados
esclarecem
o sentido da vida:
é como uma levedura
empolada na fermentação
frouxa quando esfria
à saída do forno.
Os luditas
mergulham nas profundezas das farsas
encolhem a noite
para não serem seres inanimados
e se os idiomas párias estremecem em pesadelos
é porque deixaram aos demónios
a curadoria dos dias
espaçados entre as cortinas
que se agitam no caudal do entardecer.
As guitarras arranham um som descolorido
arrematam as sílabas furibundas
e na melhor escotilha
sem esperar pelo rastilho
os homens aturdidos recolhem o arco-íris
levantam com as mãos a âncora funda
só para deixarem
um envelope com versos
pois não acreditam
no fado de garrafas deitadas borda fora.
Ninguém sabe o paradeiro das marés.
Ninguém se sequestra no convés ermo.
As muralhas do medo não se escondem
não se agigantam
no perdido movimento banal
dos amantes do estertor
dos sibilinos generais dos arsenais
desarmados.
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