Povoamos o sangue com o resto da noite.
Deixamos que os olhos não sejam baços.
O vento tortura a rua
enquanto bebemos o suor dançado
nos parágrafos que se escondem do amanhã.
As vozes amontoam-se nas paredes.
Fintam os verbos inválidos
e são elas próprias o arvoredo da primavera
o fértil chão onde nos deitamos para saber da pele.
Diremos que o medo não se compõe
na porta aberta às marés vivas
e que do centenário dicionário
colhemos as vésperas destinadas.
Açambarcamos os rios:
damos o nosso suor às suas águas.
Vemos no caudal paladino os punhos que escrevem
e sabemos
que nas veias voam palavras debruadas a mar.
Se soubéssemos dos oráculos
não queríamos o estojo dos druidas:
seríamos nós,
suficiente matéria arrumada num cofre,
prestamistas dos ultimatos sem assinatura
razão máxima da desrazão.
Se os prolegómenos se adiam no ciciar da tempestade
deixamos que os trunfos se arrastem na orla
e de um ermo lugar depomos o vazio.
Não há trovoada que nos derrote
nem noite parecida com um labirinto sem nome.
A matéria está dada.
O compêndio desaperta-se do medo
e o medo não se enquista:
fica em nós a medula pura
e sem adiamento cruzamos as latitudes
à espera dos lugares ensinados nos sonhos.
Até que os sonhos percam paradeiro
E subam pelos nossos corpos matriciais.