27.5.21

A manhã

Escolhi a manhã.

Neófita

traduz a luz iniciática

ainda sem o jugo 

da poluição.

O sabre das multidões

não frequenta a manhã.

 

(Podia também alvitrar

a bruma espapaçada

o orvalho que desapega do musgo

o rio lânguido que estacionou

à espera da sua foz

os poucos rostos, estremunhados,

o punhal que se abate

sobre o desamparo da noite

que é sempre demorada,

até no solstício do Verão).

 

Escolhi a manhã.

Antecipo as almas amestradas

irrompendo nas artérias ocupadas

arrastando-se até a manhã perder gabarito.

 

Não deito a perder

uma única manhã.

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