11.5.21

Evaporação

Povoamos o sangue com o resto da noite.

Deixamos que os olhos não sejam baços.

O vento tortura a rua

enquanto bebemos o suor dançado

nos parágrafos que se escondem do amanhã.

As vozes amontoam-se nas paredes.

Fintam os verbos inválidos

e são elas próprias o arvoredo da primavera

o fértil chão onde nos deitamos para saber da pele. 

Diremos que o medo não se compõe

na porta aberta às marés vivas

e que do centenário dicionário

colhemos as vésperas destinadas.

Açambarcamos os rios:

damos o nosso suor às suas águas.

Vemos no caudal paladino os punhos que escrevem

e sabemos 

que nas veias voam palavras debruadas a mar.

Se soubéssemos dos oráculos

não queríamos o estojo dos druidas:

seríamos nós,

suficiente matéria arrumada num cofre,

prestamistas dos ultimatos sem assinatura

razão máxima da desrazão.

Se os prolegómenos se adiam no ciciar da tempestade

deixamos que os trunfos se arrastem na orla

e de um ermo lugar depomos o vazio.

Não há trovoada que nos derrote

nem noite parecida com um labirinto sem nome.

A matéria está dada.

O compêndio desaperta-se do medo 

e o medo não se enquista:

fica em nós a medula pura

e sem adiamento cruzamos as latitudes

à espera dos lugares ensinados nos sonhos.

Até que os sonhos percam paradeiro

E subam pelos nossos corpos matriciais.

Sem comentários: