A noite é a besta negra que descoloniza a lucidez.
À noite, as luzes bruxuleantes são sentinelas.
As luzes ímanes, tatuadas na pele, desenham a coreografia dos opostos.
As luzes lisérgicas desocupam o sono de um mapa amarrotado.
As luzes são desfiladeiros habitados por fantasmas deserdados.
Por fantasmas que traduzem a liberdade para um idioma com deslimites.
A noite invernal atravessa as ruas e o corpo quente que a desmente.
É a noite que se deita nas mãos artesãs, a espoliar o medo.
A noite contumaz, verbo ou equação, morada do sortilégio.
A noite que espera pela manhã.
A noite que desafia a manhã, desembainhando a espada que roça o abismo.
A noite, que enquanto não é manhã mergulha na vertigem dos sentidos.
A noite que tutela a lua caiada de estrofes.
A noite, penhor da solidão.
Miradouro que se atreve a escrever as palavras proibidas.
À boca da noite, um palimpsesto dos rostos imarcescíveis.
Na noite que é maternidade no estirador de uns olhos diligentes.
Da noite que não devora os corpos.
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