Um capataz persegue o remoinho.
Mordisca a boca
pode ser que se encha de forças
que do caudal não se esperam tréguas.
Um mecenas pergunta pelo obelisco.
Arrisca uma tenência abastada
numa instalação prometida
na imaginação decadente do artista.
O faroleiro perde-se na insónia.
Os navios esperam que a insónia se demore
que a tempestade nascente promete
um mar furioso.
O estroina não sabe o que fazer com o tempo.
Na orla de cada minuto
boceja o espaço desarrumado pelo seu nome.
O mendigo desaprova o bulício matinal.
Deitou-se nas altas horas da madrugada
e resmunga contra a pressa dia ocupados.
O guarda-freio traz muitas histórias a tiracolo.
Espera-o mesa solitária
e os fósforos que ajudam a passar o tempo.
O campeão detém-se à frente do espelho.
Ainda não percebeu
a derrota da antevéspera.
O erudito
inebriado com o produto da sua erudição
trepa as paredes com a exultação de si mesmo:
pergunta ao espelho
(que responde pelo seu nome)
se há alguém mais erudito do que ele.
(O silêncio transtorna-o
e ainda não é desta que sobe
à cátedra do ministério.)
O velho sente a falta do baleeiro.
Arrasta a melancolia nas tascas do lugarejo
perante a indiferença dos ausentes.
O homem sisudo
imerso na observação dos outros
convoca um prolífico rol de juízos morais;
ignora
que não lhe foi encomendada a empreitada
e que devia
antes
mergulhar no poço fétido
onde não pode fingir o seu próprio espelho.
O polícia
em segredo
ajuramenta a anarquia
sem desminar o magma que o domina.
O patriarca comanda as tropas.
Precede-o a autoridade da casta
testemunhada pelos confrades.
(Um grupo precisa de um guru
– o patriarca esconde-se da palavra “líder”).
O porta-voz de sua excelência
declara
com as vírgulas todas no lugar
e a gramática obedecida
que os súbditos são súbditos de vez.
Os súbditos
amestradamente
agradecem.
(E ninguém percebe
como tolos foram arregimentados
na menoridade.)
Os capatazes deixaram de ser capazes.
Diagnosticaram
uma degenerescência incorrigível
o lugar à mesa dos descamisados
que esperam ter nada
quando o tudo está à mão de semear.
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