Caderno de encargos:
tirar o avesso do por-do-sol
desenhar as páginas
com palavras irredutíveis
comprar o hoje no leilão do passado
abrir as janelas enquanto o sol se valida
nascer no úbere da vida
atirar os dados contra o cais folgado
avivar o estuário com a boca faminta
despenhar num abismo sem mapa
estiolar o medo contumaz
servir de chão aos poetas
(ou ser poeta entre as palavras chãs)
ser o sal que o mar demanda
amanhecer a qualquer hora do dia
agradecer aos desdeuses
que se povoam no vazio
imaginar os socalcos tatuados na cal
tratar o amanhã por tu;
e prometo:
virar a vaca do avesso.
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