11.6.21

Rasante

Caderno de encargos:

tirar o avesso do por-do-sol

desenhar as páginas

com palavras irredutíveis

comprar o hoje no leilão do passado

abrir as janelas enquanto o sol se valida

nascer no úbere da vida

atirar os dados contra o cais folgado

avivar o estuário com a boca faminta

despenhar num abismo sem mapa

estiolar o medo contumaz

servir de chão aos poetas 

(ou ser poeta entre as palavras chãs)

ser o sal que o mar demanda

amanhecer a qualquer hora do dia

agradecer aos desdeuses 

que se povoam no vazio

imaginar os socalcos tatuados na cal

tratar o amanhã por tu;

e prometo:

virar a vaca do avesso.

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