Estendo as mãos
no colchão onde se antecipa a noite.
As ruas arrefecem na ausência que se abate.
Depois da voz distante
a lareira enche-se de rostos furtivos
e os garfos orquestram a claraboia baça.
Se ao menos os olhos não mentissem;
se os corpos não fossem fugitivos
e os verbos não fossem danças arcaicas;
as varandas ensolaradas diriam ser ficção
ao falarem dos degraus antecedentes
– e os animais não seriam a sua margem do medo
na bestial confissão do Homem animalesco.
A razia entre os beligerantes
seria a caução da paz.
A espécie seria procuradora de um agradecimento,
o primeiro por extinção de uma espécie
dentro da espécie.
Os sonhos ainda não pesam como ónus.
Deixem os poetas investidos nesse ministério
e as causas perdidas viram o jogo do avesso.
Os ossos fundeiam no palco fundente.
Já não há olhos tingidos de lágrimas
e mesmo que houvesse
seriam lágrimas de júbilo,
a celebração mais alta dos sonhos inviáveis.
As páginas datadas não o desmentem.
As palavras são escolhidas a dedo
amamentadas no úbere dos poetas,
os angariadores das flores disfarçadas
de estrofes
o ar desfeito de impurezas
que vem ao regaço dos ávidos do mundo completo.
Sem comentários:
Enviar um comentário