O colibri orquestra o oceano.
Ele não sabe que seu parto
deu-o o mar imensurável.
Não sabe
que de tão imenso
o mar se esconde com medo
de o tomarem como exíguo.
As vozes protestam:
vivemos todos num enclave
sitiados por paradoxos que nos consomem
sem sabemos a autoria das noites medonhas
das comendas que se advertem
contra o chão puído que nos não quer.
O colibri vigia o oceano.
Ele não sabe do seu pranto
do mar hercúleo
desfeito nos estilhaços da sua fragilidade.
Não sabe que armas precisa de terçar
para libertar os farsantes do seu pecúlio
e para da madrugada sobrante erguer estátuas
poemas válidos que substituam a gramática
devolvendo aos matriciais arquitetos
as regras deixadas a apodrecer.
O colibri pergunta ao oceano
o que o traz iracundo.
O oceano deixa o silêncio a levitar
uma coreografia que se subleva
contra os feitores de tanta coerência.
E o oceano
vulcanicamente atirado contra os cais
que dele protegem alguém
não desiste do sufrágio das almas:
quer que elas venham às janelas
espreitar o oceano temerário,
que mais parece um foragido a sair de si mesmo
na colonização da terra que não é seu domínio.
O colibri não desiste do oceano.
Amanhece ao seu lado,
como se um mago afagasse o seu rosto
numa tentativa de temperança
e das suas veias
retirasse todo o veneno que o consome
que consome as pessoas vestidas na sua humildade.
Mas o oceano contraria os vates que o desenharam
bucólico;
sitiado na sua agitação insolente
imita o alpinista e cresce por cima das dunas
ocupa o chão empedrado da alameda vizinha
deixando para memória futura
um restolho que não finge o desacato.
O colibri não se inquieta.
As mealhas da História conhecem os ciclos
e da destruição episódica
que reverte a favor da povoação das almas.
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