22.7.22

Aluvião

Faz do ventre

o chão fértil

onde se consomem

os sentidos. 

 

Torna ao húmus original

úbere dos desejos sem fastio

e desta seiva faz 

santuário. 

 

Corre contra as maldições

os arcanos oráculos

que irradiam os manuais 

a que se deve

obediência.  

 

Opõe-te

com a veemência dos insubmissos

a favor das desregras,

que são as regras que nos levitam. 

Porque 

se somos um idioma

ele é feito das estrofes

que arrancamos ao suor

as não rimas 

que acertam com o ânimo da rebeldia 

– só a nós devemos o débito

do que fazemos dar em crédito

ao paradeiro do que somos. 

 

Faz do vento 

da minha fala

a geografia em falta. 

 

Do meu sangue

arranca o fermento do futuro. 

 

À minha boca

devolve a carne extasiada

no promontório que irradia 

os dias consecutivos 

de perenidade. 

 

Desenha,

nos poros da minha pele,

o idioma de que somos procuradores

e de todos os poemas em forma de beijo

estiliza, 

com a elegância devida,

aos foros de que somos comandantes.

 

A porta do porto abriu-se

e nós

simples servidores 

da fala que nos conduz

deixamos que o dia corrente  

seja um oráculo

do que quisermos que ele seja. 

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