21.7.22

Lição da manhã

O torrencial amanhecer

despeja sobre os sentidos

uma embriaguez inaugural

o álibi perfeito para esconjurar

a letargia. 

O aparato da luz ainda timorata

ateia os ossos

desmente o impreterível torpor. 

Na escassez que se convoca

fundeia-se o fósforo à espera 

de ignição. 

E o sangue encomenda a sua combustão

como se o dia tivesse pressa

como 

se os diademas se desencontrassem 

na solicitude do dia nascente. 

A matéria-prima 

desmente as conjugações efémeras

não sem apostar

na efemeridade de tudo. 

O movimento contínuo 

alimenta o viável entardecer

como se de um Outono se tratasse

a metáfora por inventar

no mosto nunca gasto 

do sortilégio de cada dia inteiro. 

A manhã opulenta

manhã reivindicada

reificada no deleite incomensurável

ornamentada pelas arestas 

que são uma desbenção 

dos pesadelos a insubmissos. 

Apanhamos o primeiro barco

para a rua que alcança o dia guloso

uma gastronomia que fazemos verosímil

no coalho fértil 

das paisagens sem geografia.

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