18.7.22

Anticorrosivo

A corrosão irrisória

pequena vírgula de ferrugem

e todo o pensamento decepado

por dentro da artéria centrípeta,

o seu foro estroncado sem vigilância.

 

Os cometas passavam 

à janela dos dedos.

 

Passavam, sem falas angustiadas,

que não havia freguesia para lamentações

 

(ali não havia adoradores dos National

ou dos Cigarettes After Sex).

 

A tinta acabada de passar estava fresca

e ninguém se lembrou de advertir os passeantes:

 

“atenção, tinta fresca”

 

talvez por preverem 

que uns estroinas noturnos

afocinhados num irredentismo lisérgico

treslessem a frase

trocassem o género 

e procurassem sorver a tinta do choco 

(deveras psicadélico). 

 

Não se falasse de silêncio

aos faladores em barda:

distintos desarrumadores de assuntos

saltarilhando de um para o outro

sem pontes a reparar os abismos:

 

nunca tinham sede.

 

Deles não se falava de corrosão:

eram os maratonistas da palavra

povoando-a com uso gongórico,

autênticos arrastadores de temas em elipse,

ou em eclipse

(não se chegava a compreender,

ao certo).

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