11.3.24

O véu da ignorância

Tu não sabes 

que as miragens escondem a carne submersa

os carris rombos que desassossegam os párias

que é pelas praias ermas

que se juntam os denunciantes do ouro

a matéria vaga em que amanhecem os olhos. 

Tu não sabes

que as vésperas albergam a gramática impopular

que os destinos se confundem com o dia abastado

e as sombras medram em folhas roubadas. 

Tu não sabes

que há idiomas sem verbo

e outros que recusam bandeiras

ou que se levantam poetas de uma casta rara

que escolhem estrofes singulares

e falam com a usura de figuras de estilo

devolvendo ao leitor 

a liberdade que antes não havia. 

Tu não sabes

dos punhos caiados pelo luar expoente

das marés caídas sobre os rochedos gratuitos

das costas das ondas 

que guardam segredos dos marinheiros

e dos mares que empenham os segredos

dos demais. 

Tu não sabes

e não queres saber

que há lugar na geografia do tempo

para não saber destes saberes.

Sem comentários: