O poema
é as nossas mãos
que se fundem
na véspera da loucura.
O poema
é o silêncio que colonizou
estrofes.
O poema
é a rua inaugurada
no despontar da cidade.
O poema
é a manhã que levita
sobre os sonhos limítrofes.
O poema
é um verso singular
tatuado no coração amplo.
O poema
é o piano que ensinamos
a quatro mãos.
O poema
é a escultura
em que nos tornamos
o marco geodésico adivinhado
o cais terminal sem gramática por baixo
a entardecida jarra onde nadam
as flores robustas.
O poema
é matéria-prima
constante
um sinal sem trânsito
dieta que não pede regras
o poema armilar
a esbracejar a alma combustível
no parapeito do amanhã.
O poema
não precisa de poeta
só precisa
dos nossos olhares impuros
alfaiates da métrica em desuso
pátria maternal das manhãs ateadas
no incenso sussurrado
pelas nossas bocas.
O poema
não precisa
de poetas
se nós lhe demos
corpo.
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