12.5.25

Exilo(-me)

No fino engodo da justiça

onde se desembaraçam os teares enquistados

soluçam pesares contra loas sem destino

e à mesa dos rudimentares desejos

tomam lugar 

os figurantes apessoados a ouro. 

Desmanchados 

os prazeres restringidos

por enfurecidos tutores dos costumes

sobram as bocas sem freio

já não se escondem contumazes

encantadas 

com as figuras de estilo que dispensam máscara

numa tonitruante coreografia à prova de regras

exatamente 

como os comensais que se agigantam

num miradouro cercado pelos ventos 

que apenas sabem murmurar 

palavras outrora proscritas. 

Anos à frente

em frente da melancolia 

prosperam desenfreados ofensores de costumes

na antítese todavia simétrica

dos zeladores que mal disfarçam 

os constantes torniquetes que beijam

também

o ardor do proibido. 

Esta é a mesa proverbial

o espetáculo corrosivo dos opostos

síndicos de uma coisa e do seu contrário

abraçados na voracidade das restrições

dos verbos amputados por condições intermináveis

os abomináveis míopes que não se reconhecem

quando um espelho

propositadamente desembaciado

lhes conta por que linhagem se contam

à conta do sangue em que de enredam. 

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