28.5.25

Hibernação órfã

As mãos a ferro

tiram do fogo a fala telúrica

como se nelas habitasse

a lava exuberante.

 

Sem o medo do tempo

as fragas em convulsão estremecem

a pele açambarcada à noite densa

e todas as preces que se estimam

escondem do dia as mentiras puídas.

 

Falamos como as árvores

a sua pele que nasce com rugas

estaciona nos apeadeiros vagos

e contemplamos os vasos que latejam

nas estrofes que sobem a rua

as estrofes cúmplices da lua.

 

Somos estes corpos sem amarras

o sono crepuscular que recusa adamastores

tribunal supremo que ilude os usos

e do mar retiramos a gramática

nos despojos de uma maré esfíngica.

 

Pedem-nos para sermos tutores

de ventos sem paradeiro

e emprestamos os dedos

como astrolábios que os conduzem.

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