Esbracejam
os pesares pelas vozes impuras,
as
santidades que bolçam arbitrariedades.
Contra
elas não podem os silêncios.
A
elas
mandam-se
mastins esfaimados
uma
jugular incendiada
teias
de aranha que arrematam o veneno todo
incinerando
olhares malsãos.
Apodera-se
uma ira fecunda
(quando
a ira nem é geneticamente fecunda).
Os
nenúfares mirrados vegetam na água pútrida
cegando
o ar com a pestilência dos exilados.
Doravante
os
nãos são ditos quando tiverem préstimo
o
rosto embacia-se numa severidade medonha
os
dedos das mãos são pazadas de força
o
mel azeda
os
ossos salgam-se de sais raros
o
coalho dos dias serve-se como iguaria
e as
cartas adulteram-se.
O
jogo passa a ser o que dantes era rejeitado.
À
medida dos outros medra desconfiança
sentinela
dos ardis reinventados.
Faz-se
de hiena, se preciso for
saltando
florestas com velocidade vertiginosa.
Faz-se
de leão, se preciso for
e
devoram-se os sobressaltos que vierem de frente.
Há
um copo de leite estragado à espera.
Peixe
datado servido em forma de vistoso sushi.
Palavras
corteses que são alfaiates da inverosimilhança.
Comboios
vetustos, armários dos tempos que foram.
Uma
constelação que não resplandece
e
não há eclipse que a embote.
Deixa-se
vir ao de cima
um
grito de protesto que decanta a ira.
A
ira, que é banquete escusado
mas
imperativo quando as armas terçadas
são
aleivosia farta.
O
descaminho continua a ser altar alheio
dos
que se montam em bonecos faz de conta
em
montados estéreis
onde
o que se aprende é o nada.
Por
cima dos algozes da impureza
congraçam-se
e falas não pueris.
Num
braço de ferro, se preciso for
só
para ver quem mais alto grita.
Em
estrofes de protesto
que
desatam o desassombro aferrolhado.
Depois
sobra
a retoma do tempo dos olhos vivazes
as
almas merecedoras
o
vinho desembargado
a
ira aplacada
os
castelos desenhados pelos dedos
os
palcos onde se ensaia a vontade soberana
as
palavras encantatórias
– e
já não as de protesto.