Bebo no orvalho
a cor do futuro
sem espera que não seja a espera.
Corto ramos desprendidos
diligente no regresso a casa
diante das veias assaltadas pela volúpia.
Depois
na contagem dos poros suados
no inventário das mãos atadas
componho o sol vertical
no pretexto de viagens lembradas
dos lugares emoldurados na memória.
Corro
contra as paredes altas,
não sei se são muralhas
ou um lago disfarçado;
corro
apanho os autocarros que trazem versos
ensino os vagos rumores segredados
destrono lugares-feitos
assino páginas e páginas contra o torpor.
E no orvalho fresco,
matinal,
enquanto houver,
encontro auroras boreais
uma janela piramidal
cestos de flores secas
crianças que por nada saberem
são as mais sábias.
Aceito o efémero
a caução do tempo selada a tinta invisível:
sei que não há lugar para as lágrimas
sublimadas no orvalho da manhã.
Agora
tenho os braços livres
o corpo inteiro
a pedir a água dos mananciais
e mais páginas a eito por tingir
os versos à espera
a alfazema silvestre como paisagem-tela
e a noite
como lição inteira.