20.3.18

Paisagem

Recorto os dedos da paisagem
na água indomável do rio
no castigo indolente da pedra alcantilada
no sossego imposto pela genesíaca tela
o alimento que se dá aos olhos.
Da paisagem
recruto a pequenez de mim
por mais que a desenhe com os dedos túrgidos
por mais que de olhos fechados a cante
e nas estrofes vindouras tenha repouso.
Não reclamo elegias
nem inverosímeis enredos
ou fábulas pueris:
altar é o palco certo
uma escadaria ao desafio
as mangas sem cansaço
fotografias incessantes e, todavia, singulares
cada qual na protuberância de um lado
de um ângulo escondido do olhar
deixando
à paisagem desenhada ao longo da paisagem
o recobro em extinção das angústias.
Paisagem em postal belo,
sem o embraço dos homens,
apenas paisagem
no néctar da solidão
vertida nos claustros da convalescença.

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