6.3.18

Finis terrae

Tenho fronteiras em meu regaço
limites desenhados pela trova malsã
bandeiras descoloridas
idiomas vetustos, gastos
tenho uma espada desquiciada
nos despojos da imperial fachada
e os escombros dela emoldurados
mapa que custa pisar.

Tenho a terra molhada entre as mãos
o seu cheiro encantador
o aroma prazerosamente deletério
de um cachimbo fugaz
o refúgio contra o palavroso vazio
tirando o chão aos errantes
tirando as lágrimas dos melancólicos
e a sua melancolia legada ao escárnio.

Que território é o meu?

Na provável descosedura de tudo
no improvável arpoar de uma lantejoula
por carência de cais
por mares que deixaram de ser navegáveis:
talvez não saiba dessa terra minha
ou ela esteja em ebulição
nas margens sitiadas de um rio murmurado
escondida do turbilhão hodierno
da intromissão dos outros sem caução.

Desta terra sem fim
(porque assim o determino)
desenho os contornos
os marcos geodésicos onde estou de atalaia
a boca do céu testemunha
para deleite das porteiras mascaradas de gente
e infortúnio dos profetas de tudo.

Desta terra
atestada terra sem fim,
seu curador legitimado.

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